(Autoria e publicação: Jim Starlin: Almanaque do Capitão
América, n. 31, Ed. Abril, dez. 1981, págs. 25-40)

No universo dos super-heróis, nenhum país do planeta conseguiu se igualar
às criações dos norte-americanos, como arquétipos daquela nação (mas não só),
principalmente criados para as duas maiores editoras do planeta, a Marvel e a
DC.
E eu, como leitor na adolescência principalmente dessas histórias, fui
muito influenciado no desenvolvimento artistico dos desenhos cujos estilos
variavam enormemente, como pelas éticas e morais que norteavam os personagens,
cujos criadores decerto também se compraziam em desenvolvê-los. Apesar das
mudanças sociais que foram moldando as últimas décadas, tornando esse gênero de
quadrinhos cada vez mais realista, ao mesmo tempo que menos maniqueísta, há
grandes histórias no sentido de roteiros inteligentes e cativantes, usando os
personagens como mestres-guias para o desenvolvimento de mensagens de conteúdos
nobres. Foi o caso de muitas HQ como as do mestre do Kung Fu, escritas por Doug
Moench, ou a universalidade e minimização de preconceitos com as equipes de
heróis, tais como X-Men (Marvel), cuja segunda formação original tinha membros
africanos, soviéticos, irlandeses etc, e da Legião de Super-Heróis (DC), cujos
integrantes eram oriundos de divresos planetas fictícios. Outros, como Capitão
Marvel (da Marvel) tiveram alguns arcos de história memoráveis escritos e
desenhados pelo saudoso Jim Starlin (que chegou a matar o herói de
câncer…doença que acometeu o pai do artista).
Nesta linha é que pretendo escrever (e ressuscitar) HQ desses naipes que
muito me marcaram e ajudaram – repito – na minha formação artística e mental.
Para começar quero escrever sobre uma HQ da personagem Motoqueiro Fantasma
publicada no Brasil em 1981, roteirizada e desenhada pelo já mencionado Jim
Starlin. O título em português da HQ é A
Morte como prêmio (mais uma vez o fantasma da morte nas HQ desse autor).
Porém dessa vez, é um pouco diferente. A história começa com Johnny Blaze
pilotando sua moto enquanto reflete sobre sua angústia de ter feito um pacto
com Satã, quando repentinamente se vê obrigado a brecar sua moto já que um sujeito
se postou bem à frente dele na estrada. Sem perda de tempo, a misteriosa figura
se apresenta como a personificação (em forma de caveira mítica) da Morte e pede
um desafio ao herói amargurado, com a justificativa de que se cansou das
bravatas que Blaze vive lançando contra a morte.
Ela define o concurso em 3 desafios: no primeiro, quem alcançar um motociclista
que se encontra a 8 km fica com sua vida…mas Blaze o alcança pouco depois da
Morte e vê o homem ser pulverizado quando ela o toca.

Em sua última reflexão põe em xeque quantas vezes ainda ele desafiaria a
morte…o que pode ser verificado como uma alusão ao estilo de vida que ele leva:
perigoso demais!
Assim, Starlin quebra um pouco o padrão de histórias continuadas como
novelas, inserindo um plot interessante que pode metaforizar os
percalços de cada um de nós e o que fazemos para vencê-los: ora perdendo
(quando ele não consegue salvar a vida do primeiro homem), ora vencendo como
herói (mantendo a vida da garotinha), e um outro momento tendo que enfrentar e
decidir ações em situações de extremo cuidado e rapidez de decisão. Nossas
vidas têm estes teores, sejam quais forem nossas profissões: Starlin era mestre
em nos colocar a encarar os domínios e liames entre a vida e a morte (vide seu
Capitão Marvel e Thanos que buscava o amor da Morte).
Enfim, esta é uma HQ de arte bela com um roteiro intrigante e reflexivo!
Gazy Andraus[1]
[1]Coordenador
do Curso de pós em Docêncioa no Ensino Superior da FIG-UNIMESP, Pesquisador do
Observatório de Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP),
Doutor em Ciências da Comunicação da ECA-USP (melhor tese de 2006 pelo HQMIX em
2007), Mestre em Artes
Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, e autor de
histórias em quadrinhos autorais adultas, de temática fantástico-filosófica.
Esse texto, inclusive, já foi publicado no Jornal Graphiq (edfitado por Mário Latino, Suzano-SP), #59, em nov de 2011.
ResponderExcluirQue bom,Priscila. Mas como viu, não era a história da origem, mas uma excelente que mostrava um lado filosófico do herói.
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