Gibi: Super-Heróis Marvel, nº. 7 – jan. 1980, RGE
O Coisa e Motoqueiro Fantasma juntos
Capa |
Roteiro: Steve gerber; Arte: Sal Buscema; Arte-Final: Mike
Espósito
“Noite de Paz, noite de morte”
por Gazy Andraus
Fig. 1 (fig. 1 a 6: fonte: arquivo pessoal do autor) |
Pois bem, ao adquirir a revista na
banca, com meus 13 anos, tendo a primeira das duas HQs como protagonistas o
Homem-Aranha e Tocha Humana juntos contra Morbius (na arte de Ross Andru, cujo
estilo em perspectivde desenhar corpos humanos eu não admirava) e a segunda HQ sob o título Noite
de Paz e Noite de Morte com o Coisa e Motoqueiro Fantasma, em que na página de
abertura da história apareciam os quadrinhos com o céu estrelado noturno,
fiquei contente e motivado, pois os desenhos, ainda que de Sal Buscema (cuja
arte era mediana, mas de estilo preferível a de Andru no quesito anatomia)
traziam nos quadrinhos um enredo visual instigante. Aquela coleção Super-Heróis
Marvel da RGE Editora perfilava em cada edição, duas revistas norte-americanas
da Marvel traduzidas, que eram respectivamente Marvel Team-UP (com o protagonista
Homem-Aranha sempre com outro super-herói adjunto) e Marvel Two in One (sempre
com o Coisa auxiliado por algum outro super-ser), e desconheço se esses títulos norte-americanos ainda existam (suponho que não mais, dadas as mudanças
que aconteceram no âmbito das personalidades dos heróis e lides editoriais que
causaram tais modificações).
Fig. 4 |
Figs 2, 3 e 4a |
ao longe e junta as informações que parecem reproduzir um momento bíblico
com uma peculiaridade: as pessoas pareciam hipnotizadas e de feições indígenas
(fig. 3). O roteiro faz um corte para a cidade que abriga a sede dos 4
Fantásticos, que está prestes a comemorar o natal daquele ano (fig. 4), enquanto que Reed
Richards, o cientista herói de borracha detecta uma estranha anomalia na
região, sem saber que é onde se passa o fato com o Motoqueiro Fantasma (fig.
4a). Ben Grimm, o Coisa, se oferece para ir ao lugar de Reed, e assim se dá
o encontro do Motoqueiro com o Coisa que se deparam com um inimigo do quarteto antigo
dado como morto numa aventura anterior, o Herege (cujo bigode
nessa aventura surreal lembra o do pintor Salvador Dali, talvez apenas
uma coincidência visual). Na aventura fica claro que o intuito do vilão é
típico da visão estereotipada simplória de antes: a da megalomania de um doente
mental com poderes místicos que ganhou, no caso, com a convivência com os espíritos
indígenas dos Cheemuzwa, que o avisaram a não desejar o poder absoluto. Mas
como todo vilão, traiu a tribo quando retornou, matando-os (antes em outra
aventura que é explicada resumidamente) e insuflando a eles novas substâncias
que os fizeram reviver como escravos (nessa aventura de agora), encenando o
nascimento de Cristo, através de uma criança criada pelos poderes do próprio Herege. Tudo refeito e planejado pelo vilão, que
se porta como um Deus que vai enlouquecendo aos poucos: ou seja, não parece
haver um objetivo de lucro ou destruição planetária, mas sim de escravismo aos
indígenas redivivos que se submetem a sua loucura apoteótica de um falso messias
(fig. 5). Tal plano desmorona com a presença e ação dos dois heróis que
libertam os indígenas da falsa ilusão, enquanto o ensandecido vilão, tal qual Nero,
põe fogo em toda cidadela por ele recriada a partir de uma reserva indígena, até
ser contido pelo herói de pedra, o Coisa. Assim, os indígenas ressuscitados retornam a
seu mundo pós-morte, à exceção do menino que fazia as vezes de Jesus no berço,
e que é resgatado por outro índio liberto que lá estava hipnotizado e não havia
morrido, Wiatt Wingfoot (amigo dos 4 Fantásticos) e uma indígena que se prestam
a tomar conta do garoto (fig. 6). A história é singela e ao mesmo tempo
tem um potencial de realismo fantástico (ou surreal), mas criativa por isso
mesmo, e a arte de Buscema é boa nesta fase (à exceção do letramento da
tradução brasileira adaptada pela RGE, que é muito grande para o formatinho da
revista, prejudicando bastante a visualização dos desenhos nos quadrinhos).
Fig. 5 |
Fig. 6 |
Mas meu
intento em retornar a meu blog com mais histórias “clássicas” foi me lembrar
que o visual dessa HQ, mais o tema natalino, coadunado à minha fase adolescente
de férias visitado por parentes e primos, e lembrando-me de quando comprei a
revista e que até hoje costumo rever a arte dessa HQ (muito também porque
renego as artes atuais da maioria dos desenhistas de super-heróis contemporâneos, pois
o fazem com desenhos sem interação real
com os roteiristas norte-americanos, e a meu ver, com desenhos extremamente bem
feitos, mas sem alma e sem estilo próprio muitas vezes, aparentando falsamente tê-lo.
Sem mencionar as mudanças das personalidades dos heróis da atualidade: o
Motoqueiro Fantasma nem de longe parece ser esse que aqui é mostrado nessa HQ,
cujas histórias versavam por vários temas, até mesmo de ecologia, como noutra
aventura do personagem que saiu num gibi dos Heróis da TV em que ele se depara
com um homem vingativo que matava golfinhos).
Essas
premissas e lembranças mantiveram-me contente e na memória de que tal HQ como a
demonstrada aqui, me enterneceu visualmente à época, devido ao fato dos
desenhos mostrarem um céu estrelado que se coadunava com o deserto e a figura solitário-filosófica
do herói, e seu encontro com um cenário instigante, e um roteiro surreal,
apesar de simplório. Outro fator foi o tema natalino e a sensação daquele
momento bíblico revivido pelos personagens que me remetiam ao sentimento acalentador
e fraterno que eu possuía (sentimentos esses que não vejo mais nesse período
obscuro e falsamente alardeado como natalino, mas comercialmente amplificado ao
extremo). E assim compartilho um pouco do que senti à época, com uma porção de
arte que me fez vibrar e conduziu minha mente nos processos criativos a partir
daquelas leituras, sejam pelo roteiro, sejam pela arte, não tão boas assim, no
caso, mas suficientes e esteticamente belas para me trazerem sempre à memória de
um período em que eu era sempre reavivado com tais momentos de alegria ao
adquirir um gibi como aquele, ainda mais se coadunado a uma época festiva e de
certa maneira lúdica como a natalina de minha juventude, e partilhá-la a quem o
queira, na atualidade, aqui em meu singelo e rememorativo blog.
De toda maneira, espero que
entendam, apreciem o contexto da HQ (e àqueles que se sentirem motivados, digitem
no Google “Marvel Two-in-One 008 (Ghost Rider).cbz” para baixar a HQ original
via torrentz para ser lida no computador – baixem também um programa chamado
CBR para conseguirem abrir e ler a história). Vide aqui a página de abertura
original e comparem como no Brasil diminuem o texto para caber no então
formatinho da revista (fig. 7).
Fig. 7: fonte Marvel Two-in-One 008 (Ghost Rider).cbz |
A todos, um Feliz Total (trocadilho
com aquele espírito d´antanho que eu comunguei a vocês), e estendido a todos os outros doutras religiões
(e até agnósticos ou ateus), já que em realidade essa data é uma alteração com anuência dos
romanos às festividades pagãs que eram realizadas em 25 de dezembro anteriores:
refiro-me então, ao espírito fraterno, sendo ou não natalino, como substituto
de tal esfuziante data, se esta nada diz a alguns ou muitos de nós! Feliz
Total!
Prof. Dr. Gazy Andraus[1], São Vicente, 23 e 24
de dezembro de 2014.
[1] Coordenador e prof. do Curso de Pós-Graduação em
Docência no Ensino Superior e criador da disciplina de HQ e Zine no curso de
Tecnólogo em Design
Gráfico da FIG-UNIMESP - Centro Universitário Metropolitano
de São Paulo, Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, mestre em Artes pela
UNESP, pesquisador do Observatório de HQ da USP e autor independente de HQ
fantástico-filosófica. gazyandraus@gmail.com ; http://tesegazy.blogspot.com/,
http://classichqs.blogspot.com.br/
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