Gibi: Super-Duplas
(A Maior), nº. 20 – março de 1980, EBAL
Roteiro: Paul
Levitz; Arte: James Sherman e Bob Wiacek
Eis uma das fases mais
interessantes dos gibis de super-heróis, aqui editadas, durante a publicação
pela finada editora EBAL do Rio de Janeiro.
Já na fase do
formatinho, eu adquiria vez ou outra algum dos seus lançamentos. Porém, este
que enfoco eu só o comprei anos depois num sebo, visto que fui tomar contato
antes, quando viajava de férias para a residência de parentes em Ituiutaba/MG
(cidade onde nasci). Lá, havia um “quartinho” que era exclusivo
às publicações (espécie de mini-gibiteca) e que era tomado por gibis de todas as
áreas (heróis, humor, históricos etc). Pois naquele período, na minha
adolescência, ao folhear um deles (vide capa na fig. 1), eu me tornara maravilhado.
Fig. 1 |
Foi assim com a segunda
história da revista, a começar pelas duas páginas de abertura (fig. 2): arte que expunha
o futuro, em que Super-Boy e seus amigos da Legião de Super-Heróis apareciam já
combatendo vilões (no caso, vilãs) que eram “assaltantes sklarianas" numa
arte das que, com meus 13, ou 14, ou 15 anos, adorava ver, sorver, e fruir,
para depois tentar desenhar (de memória o mais próximo possível dos desenhos
cujos estilos me agradavam, recriando-os de maneira pessoal)! A arte de James Sherman
não era das melhores, mas também estava acima da média, e tinha um estilo e uma
vivacidade nos movimentos e ângulos que me cativaram (lembrando que a
arte-final de Bob Wiacek propulsionava os desenhos do artista, usando
retículas e um preto e branco vigoroso e marcante, com as cores tradicionais
que as revistas da EBAL utilizavam num papel especial mais grosso que o normal
das outras editoras). A sobriedade da história (seriedade), mais a arte me
davam alento para continuar meus treinamentos de desenhos em quadrinhos (eu
assim procedia depois de ver alguma HQ cujo estilo me atraía: fechava depois a
revista e tentava de memória fazer meus desenhos no estilo do desenhista que
havia me agradado, conforme explanei anteriormente).
Mas na verdade, as HQs
da Legião se passam um milênio além desse nosso tempo (tais como as de Star Trek),
em que planetas com seres extraterrestres de toda sorte se reúnem e digladiam
entre elas, tendo em comum a Legião de super seres, formada com jovens detentores
de poderes além dos normais, de todas as raças e espécies que habitam o cosmo,
impulsionadas pela lenda do "passado" que lhas deu avidez pela ética,
pela paz e pelo amor: a lenda do Superboy (ou Superman depois).
Fig. 2 |
A premissa era boa, mas
a Legião teve muitos altos e baixos em sua qualidade devido aos autores que
nela passaram, e era publicada desde o final da década de 1960 nos EUA e também
no Brasil, inicialmente em formatão e preto e branco. Essa fase de formatinho
veio depois, colorida e já numa melhor roupagem de roteiros e desenhos (algumas
HQs com arte do Dave Cockrum, que depois transpôs aos novos X-Men muito dos
conceitos que havia aplicado nas HQs da Legião de Super-Heróis).
Mas nessa história em
quadrinhos em especial, que na verdade continuava de uma edição anterior, trazendo
neste número um novo plot que se fecharia na edição
da Revista "Superduplas" subsequente, aparecia um inimigo poderoso:
"o Homem-Infinito" (fig. 3) que de humano conseguiu viajar em todos os tempos
tornando-se cosmicamente poderoso e gigante (parecendo indestrutível, com a
pretensão tradicional dos vilões de ganhar/consumir o Cosmo - um pouco de
Galactus nele, talvez).
Fig. 3 |
De novo, não foi o
roteiro que me impressionou, mas os desenhos e as cores: pegar a revista,
abri-la e logo de cara ver uma cena de ação bem desenhada com personagens
femininas lutando com os super-heróis numa espécie de carro futurista: reparem
nas cores-vinho na roupagem das vilãs - uma beleza estética no colorido combinando
com as retículas cinzas dos céus (fig. 4).
Fig. 4 |
Havia dezenas de heróis,
o que permitia ao roteirista trabalhá-los como quisesse e nem sempre utilizando
todos, visto que podiam entrar em missões espaciais distintas (claro que não
foram tão bem aproveitados naquela época, como poderiam. Somente anos depois Paul
levitz e Keith Giffen trouxeram conceitos renovados mais contundentes à Legião).
Fig. 5: vide o desenho retratando as imagens dos personagens espelhadas na porta de vidro atrás da personagem, e também no elmo de Fogo-Fátuo no último quadrinho. |
Fig. 6: ângulos distintos nos quadrinhos! |
Assim, essa homenagem é
mais para os desenhos dessa HQ, as mudanças de ângulos das cenas nos quadrinhos
(figs. 5 e 6), as cores
como disse, e a maravilha que essas imagens (ondas gráficas visuais) adentraram
em meu ser da primeira vez que bati meus olhos em suas páginas...é inexplicável,
tanto quanto o que sentimos ao ouvirmos músicas que nos tocam (e no caso, à época,
eu começava a ouvir rock mais pesado e/ou progressivo, portanto, tais imagens
se coadunavam com as ondas sonoras de Iron Maiden, Uriah Heep, Pink Floyd ou Dio), trazendo-me imaginações
incríveis, vontade imanente e inexorável de desenhar, e recriações sorvendo os desenhos,
as sequências enquanto ouvia tais sons!
Bons tempos que ribombaram
em meu ser e me tornaram quem sou hoje:
com ideais, com ética e com vontade de ter, reiterar e reincidir a estética gráfico/sonoro/cósmica
em tudo o que imagino e busco executar!
Gazy Andraus, São
Vicente, entre abril e setembro de 2016.
[1]Professor da da FIG-UNIMESP - Centro Universitário
Metropolitano de São Paulo; Doutor em Ciências da Comunicação pela USP; mestre
em Artes pela UNESP, pesquisador do Observatório de HQ da USP; INTERESPE –
Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação; Interculturalidade e
Poéticas de Fronteira e autor independente de HQ fantástico-filosófica. yzagandraus@gmail.com
; http://tesegazy.blogspot.com/
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